Iniciando o texto pela resposta, não, não é errado tratar
seu cão como filho.
Mas depende.
Vamos à justificativa: desde que você cuide do seu cão como
um filho para ser independente, seguro, confiante, apto para demonstrar
comportamentos naturais, conhecedor das regras sociais, sem deixar de ser
amoroso, carinhoso, amigo e companheiro, tudo bem. Na maioria dos casos, pais
criam filhos para se tornarem educados em sociedade, seguros quando sozinhos e
confiantes para resolverem situações adversas. É isso que você faz com seu cão?
Em caso afirmativo, perfeito!
Em contrapartida, se você trata seu cão como um filho
mimado, dependente, inseguro, autoritário, sim, é um problema tanto para o cão,
quanto para quem vive com ele.
O senso comum dá a esta relação o nome de ‘humanização’. Entende-se que humanizar os animais é tratá-los como se fossem pessoas, conferindo a eles desejos e aspirações próprias a humanos. Certamente que projetar a outra espécie sentimentos inerentes à nossa não traz efeitos positivos a ambas.
A “humanização” dos cães tem uma via única na qual o humano
é sempre beneficiado e o cão, a médio e longo prazo, quase nunca. Todavia, a
palavra correta para descrever este comportamento não deveria ser nenhuma
relacionada a ‘humanos’, uma vez que as atitudes atribuídas à humanização nada
têm a ver com a relação entre pessoas saudáveis.
Em nome do amor, alguns optam por determinadas atitudes com
os cães que não tiveram ou teriam com filhos. Vamos pensar juntos: um humano
adulto carrega outro humano também adulto e saudável no colo durante um passeio
no parque? Não seria estranho uma pessoa dar o almoço na boca de outra pessoa
adulta e saudável apenas por acreditar que esta é incapaz? Ainda, seria
sustentável não sair de casa porque um filho adulto não fica sozinho e, se isto
acontece, grita e chora a ponto de o síndico intervir?
Pois é. Não tratamos humanos saudáveis desta forma caricata.
Mas é possível ver pessoas fazendo isto com os cães. É por isso que acredito
que a palavra correta não deveria ser ‘humanização’ dos cães, pois não tratamos
humanos saudáveis assim.
E qual a consequência desta forma de relacionamento entre
cães e pessoas?
Quando o cão é tratado de forma “humanizada”, ou seja, como
um filho mimado, as consequências mais comuns de tal tratamento são:
Para o cão:
- Ansiedade por separação (potencial causa de abandono)
- Transtornos compulsivos (latidos em excesso, lambeduras,
estereotipias, etc)
- Insegurança
- Medos e fobias
- Supressão de comportamentos naturais à espécie
- Baixo interesse social (com a mesma espécie)
Para as pessoas:
- Criar uma relação de dependências, acreditando que seu cão
não vive sem sua presença
- Isolamento social, pois os cães passam a ocupar o lugar que
poderia ser preenchido por outro humano
- Projetar necessidades e expectativas que não existem
- Acreditar em emoções caninas que não têm nenhum benefício
adaptativo para a espécie, como: vingança, rancor e birra.
- E como podemos reverter este quadro?
- Desejar um cão mais independente, confiante e seguro.
- Não projetar nos cães emoções que não existem
- Adotar medidas que construam uma relação mais independente
entre o tutor e o cão, como, por exemplo: ensinar o cão a ficar sozinho em
casa.
- Criar uma rotina com atividades ao ar livre
- Buscar sociabilizar o cão, com aulas de adestramento em
grupo, passeios em parques, viagens pet friendly e Day Cares.
- Ser cauteloso nestas mudanças, pois o cão precisará passar
por uma nova adaptação.
- Respeitar a individualidade do pet: embora seja muito amado
e seja parte da família humana, um cão é um cão.
Que tal darmos o tratamento respeitoso aos nossos amigos
caninos, conferindo a eles a possibilidade de expressarem seus comportamentos
naturais, tal qual nós gostamos de, também, expressar? Nem mais, nem menos:
exatamente cães amigos, amados, sociáveis, saudáveis e inseridos na nossa
família. Pense nisto e viva feliz com seu cão!
Fonte: PetLove
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